O texto a seguir foi publicado em artes e letras por seven em 14.08.2007:
Parece irónico falar de Matisse, apelidado o mestre da cor, mostrando uma fotografia a preto e branco. Durante toda a sua vida o pintor dedicou todos os seus esforços a trabalhar a cor - eu sinto através da cor, terá dito. Descobriu esta sua vocação quando lhe ofereceram uma caixa de cores para se entreter durante a convalescença de uma operação ao apêndice, tinha então 20 anos. Na época de convulsões e temores que atravessou, paradoxalmente pintou a alegria, a beleza e a harmonia. Ao longo de anos captou estes temas no papel através do desenho que depois preenchia com cores lisas e vibrantes.
Em 1941 é-lhe diagnosticada uma doença incurável que o vai incapacitar cada vez mais para a pintura, ele que riscava directamente nos grandes espaços com o pincel! Matisse não se conforma com a sua incapacidade. Descobre então um novo meio de expressão ao seu alcance: o recorte. Nas suas mãos, a tesoura desenha linhas ondulantes em papeis previamente coloridos com guache. O artista prescinde do desenho e desenha directamente na cor. O resultado é surpreendente... Frequentemente deitado ou numa cadeira de rodas, o velho doente arranjou uma maneira de contrariar o destino e, ainda assim, atingir o ápice da sua carreira - a síntese das sínteses!
Divertimento de um velho paralítico, crepúsculo de um Deus, frivolidades infantis... que interessa? As formas recortadas de Matisse são diferentes de tudo o que até então se vira. Não são as colagens cubistas, o vocabulário abstracto de Kandinsky nem os signos biomórficos de Jean Arp. São um constante regresso à infância, como disse Baudelaire sobre o Génio. Em 1947 publica uma colectânea destes trabalhos a que chama sintomaticamente "Jazz - improvisos cromáticos e cadenciados". Improvisos semelhantes aos que executaria Charlie Parker no saxofone...
A tristeza do rei (1952) terá sido a sua última realização, o adeus à vida, às coisas do mundo que o rodeia e a tudo o que lhe era querido, reunindo tudo nesta obra derradeira como que para se fazer enterrar com ela, à maneira dos faraós do antigo Egipto. O rei, vestido de negro com uma viola na mão, seria o próprio Matisse.

Tristeza do Rei (1952)
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Para Matisse
Matisse
Matinasse
Para ver o sol nascer
Matisse
Materializasse
Só se fosse a cor
Matisse
Matizasse
Todo um arco-íris
Matisse
Mitigasse
A fome de beleza
Matisse
Motivasse
Os olhares indiferentes
Matisse
Matisse
Para encantar os mortais
Tributo a Matisse I - Colagem de 2009
Tributo a Matisse II - colagem de 2009