sábado, 26 de junho de 2010

Série Garrafas - 2008















Se você fosse garrafa
Eu seria gênio
Para satisfazer todos os seus desejos

Se você fosse céu
Eu seria nuvem
Para fazer cócegas em suas orelhas

Se você fosse mar
Eu seria cavalo marinho
Para cavalgar suas ondas

Se você fosse terra
Eu seria vulcão
Para fazer ferver suas entranhas

Se você fosse árvore
Eu seria fruto
Para guardar sua semente

Se você fosse tela
Eu seria tinta
Para criar uma obra prima

Se você fosse lua
Eu seria São Jorge
Pra te salvar do dragão

Se você fosse vento
Eu seria saia rodada
Pra mostrar as pernas da bailarina

Se você fosse chuva
Eu seria semente
Pra brotar flor na primavera

Se você fosse música
Eu seria nota musical
Para compor uma sinfonia

Se você fosse real
Eu seria sonho
E juntos seríamos o infinito

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Viagem





Circo - 2001



Foi ao cinema. Sozinha. Como sempre fazia, mesmo antes da separação. Não era como algumas pessoas que precisam de companhia para tudo. Gostava de estar só às vezes. Ir ao teatro ou almoçar não carecia necessariamente de ser um momento dividido com alguém.

Naquele dia talvez estivesse mais emotiva do que o normal e por isso uma conversa, absolutamente banal, despertou nela uma tristeza que transbordou em lágrimas, teimosas, desobedientes à sua ordem de recolher.

À sua frente estava sentado um casal de meia idade, dividindo um lanche, à espera do início do filme. Entre uma mordida e outra em seu sanduiche, o homem disse:

- Toda vez que como este sanduiche lembro daquela viagem que fizemos para...

Parou de ouvir a conversa e começou a pensar em como seria bom ter alguém para conversar e lembrar de momentos vividos juntos, alguém que a compreendesse e estivesse disposto a ouvir com atenção, relembrar detalhes, sabores, cores, cheiros, experiências, descobertas...

Nesse ponto seus olhos começaram a exprimir em lágrimas os seus pensamentos e por alguns instantes desejou envelhecer ao lado de alguém.

Mesmo após duas tentativas fracassadas, ainda espera pelo homem que a levará ao cinema e comentará sobre aquela viagem...

Ainda assim...






Pra Rua Me Levar

Ana Carolina e Totonho Villeroy

Não vou viver, como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho onde eu vou
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus, e que não abro mão
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora

Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
Eu vou lembrar você

É mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora...


terça-feira, 8 de junho de 2010

Adelaide







Bicho de sete cabeças. Cada uma com mais sete, replicadas ao infinito. Medusa dos trópicos. Mil idéias em desalinho. Em cada boca um pincel. Em cada pincel uma cor. Nasceu Adelaide. Adelaide se esconde sob um arco-íris lilás. Seus olhos são negros, como seu cabelo.
Você consegue vê-la? Nasceu de uma foto onde uma mãe chorava a morte de sua cria. Seu rosto mostrava uma dor imensa, comovente, enquanto acariciava a cabeça da criança, como se quisesse fazê-la renascer, como se não fosse capaz de aceitar aquela partida tão prematura. Vítima da tragédia ocorrida numa escola da cidade russa de Beslan, onde terroristas chechenos provocaram a morte de 344 civis, entre eles 186 crianças, entre elas aquele bebê. Agachada junto a seu filho, aquela mulher era o retrato genuíno da maior de todas as dores, sem escândalo, expressão profunda de uma perda irreparável, tristeza que carregaria para sempre.





quarta-feira, 2 de junho de 2010

Janelas da Alma







Almas
Penadas, almas
Alvas
Almas, alvas
Janelas azuis
Por onde espreitam
Olhos sedentos
Mão segura
Que conduz
Ao caminho inseguro
Do meu delírio
Cerra
Não deixa passar a luz
Quero a escuridão
Da noite sem lua
Sem estrelas
Sem alma




Alma Nua

Vander Lee





Ó Pai
Não deixes que façam de mim
O que da pedra tu fizestes
E que a fria luz da razão
Não cale o azul da aura que me vestes
Dá-me leveza nas mãos
Faze de mim um nobre domador
Laçando acordes e versos
Dispersos no tempo
Pro templo do amor
Que se eu tiver que ficar nu
Hei de envolver-me em pura poesia
E dela farei minha casa, minha asa
Loucura de cada dia
Dá-me o silêncio da noite
Pra ouvir o sapo namorar a lua
Dá-me direito ao açoite
Ao ócio, ao cio
À vadiagem pela rua
Deixa-me perder a hora
Pra ter tempo de encontrar a rima

Ver o mundo de dentro pra fora
E a beleza que aflora de baixo pra cima
Ó meu Pai, dá-me o direito
De dizer coisas sem sentido
De não ter que ser perfeito
Pretérito, sujeito, artigo definido
De me apaixonar todo dia
De ser mais jovem que meu filho
E ir aprendendo com ele
A magia
de nunca perder o brilho
Virar os dados do destino
De me contradizer, de não ter meta
Me reinventar, ser meu próprio Deus
Viver menino, morrer poeta