Parece irónico falar de Matisse, apelidado o mestre da cor, mostrando uma fotografia a preto e branco. Durante toda a sua vida o pintor dedicou todos os seus esforços a trabalhar a cor - eu sinto através da cor, terá dito. Descobriu esta sua vocação quando lhe ofereceram uma caixa de cores para se entreter durante a convalescença de uma operação ao apêndice, tinha então 20 anos. Na época de convulsões e temores que atravessou, paradoxalmente pintou a alegria, a beleza e a harmonia. Ao longo de anos captou estes temas no papel através do desenho que depois preenchia com cores lisas e vibrantes.
Em 1941 é-lhe diagnosticada uma doença incurável que o vai incapacitar cada vez mais para a pintura, ele que riscava directamente nos grandes espaços com o pincel! Matisse não se conforma com a sua incapacidade. Descobre então um novo meio de expressão ao seu alcance: o recorte. Nas suas mãos, a tesoura desenha linhas ondulantes em papeis previamente coloridos com guache. O artista prescinde do desenho e desenha directamente na cor. O resultado é surpreendente... Frequentemente deitado ou numa cadeira de rodas, o velho doente arranjou uma maneira de contrariar o destino e, ainda assim, atingir o ápice da sua carreira - a síntese das sínteses!
Divertimento de um velho paralítico, crepúsculo de um Deus, frivolidades infantis... que interessa? As formas recortadas de Matisse são diferentes de tudo o que até então se vira. Não são as colagens cubistas, o vocabulário abstracto de Kandinsky nem os signos biomórficos de Jean Arp. São um constante regresso à infância, como disse Baudelaire sobre o Génio. Em 1947 publica uma colectânea destes trabalhos a que chama sintomaticamente "Jazz - improvisos cromáticos e cadenciados". Improvisos semelhantes aos que executaria Charlie Parker no saxofone...
A tristeza do rei (1952) terá sido a sua última realização, o adeus à vida, às coisas do mundo que o rodeia e a tudo o que lhe era querido, reunindo tudo nesta obra derradeira como que para se fazer enterrar com ela, à maneira dos faraós do antigo Egipto. O rei, vestido de negro com uma viola na mão, seria o próprio Matisse.
Tristeza do Rei (1952)
Para Matisse
Matisse
Matinasse
Para ver o sol nascer
Matisse
Materializasse
Só se fosse a cor
Matisse
Matizasse
Todo um arco-íris
Matisse
Mitigasse
A fome de beleza
Matisse
Motivasse
Os olhares indiferentes
Matisse
Matisse
Para encantar os mortais
7 comentários:
Lucia,
Maravilhosa a história do Matisse e do talento que vence a limitação física.
Abraço,
Terráqueo
Grande Matisse.
Seu tributo também está lindo, as cores, as formas, a alegria: merece mesmo esse nome.
Foi um prazer muito grande em conhecer.
Merecido e bem feito post a Matisse!
O trabalho dele é mesmo admirável e generoso.
Que coisa linda! O que vc escreveu e as obras desse mestre.
Obrigado pela visita no meu blog e tem um vídeo se clicar no nome do espetáculo. reapareça para ver. beijos
PS- Vc é parente de Mauricio Alfaya? Ele foi meu colega de Belas Artes.
Lucia...parabéns pelo seu blog...
amo Matisse...suas cores, pinturas, colagens...
Beijos
Leca
Excelente este tributo a Matisse!
Renata Psarska
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