sexta-feira, 28 de maio de 2010

Mulher







Apanhado. De meias. Sapatos pendurados nos dedos médio e indicador. Descendo a escada de madeira na ponta dos pés, devagar, tentando evitar o ranger dos degraus. Chaveiro contido na mão, impedindo o tilintar das chaves.

- Aonde você vai?

- Vou até a portaria, buscar a revista V.

- Precisava se arrumar todo assim?

- É.

- E por que os sapatos na mão?

- Para não lhe acordar, não queria incomodar.

- A revista só chega amanhã, domingo

- ...

Será que eles ainda acreditam na máxima "negar sempre, até o final"? Ainda não se deram conta que essa é apenas uma maneira de subestimar e desrespeitar o outro em todos os sentidos? Não perceberam que o amor vai morrendo aos poucos, gota a gota, esvaindo-se numa série de mágoas, flechas certeiras, cravadas no coração?

- Quero a separação!

- Mas por quê? Por quê? Eu te amo!

Ora façam-me o favor. Não perceberam ainda que o modelo cafajeste saiu de moda?



sexta-feira, 21 de maio de 2010

Homem







Sobrevoa e pousa
Branca como a luz
Torquês de ferro
Leve como o ar
Esmagadora feito o arrependimento
Pentimento na tela azul-turquesa
Caminhos de navegar o inconsciente
Voa para longe
Levando os cinzas
Desse inverno glacial
Cruel e torturante
Como a falta que sinto de ti

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sol e Mar



Ando muito musical estes dias. Culpa do iPod, ressuscitado pela volta à academia, depois de quase dois anos fazendo apenas algumas caminhadas esparsas. Tinha até esquecido como é revigorante fazer exercícios físicos, apesar do esforço para manter a rotina. Espero perseverar!

Como não estou podendo publicar meus trabalhos novos, por causa da próxima exposição, fico cavoucando meus arquivos de trabalhos antigos. Então achei esse, sem título, doado para uma instituição de caridade, transformado em prêmio de bingo, filho perdido, paradeiro ignorado, bem do início, lá pelo idos de 2000, que me remeteu à musica Mar e Sol:





Mar e Sol

Composição: Lokua Kanza/ Carlos Rennó

Na voz de Gal Costa




Um Sol
Eu sou
Para o seu mar, ó meu amor;
Você
O mar é
Para o meu Sol, para eu me pôr;

Me pôr
Em você,
Me espelhar, me espalhar;
Meu Sol
De arrebol
Deitar no leito de seu mar –

E entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Em você morrer, morrer.

Um só,
Um nó
De fogo e água, terra e céu,
A sós,
Somos nós,
De corpo e alma, você e eu;

E eu
A descer,
A desnascer, desvanecer;
A ser
Em você
Um Sol
a se dissolver –

Ao entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Em você morrer, morrer.

Depois,
Nós dois,
Olhos nos olhos, vis-à-vis,
Nos seus
Olhos meus,

Me vejo no que vejo ali;

Ali,
Eu-você,
Olho no olho a se espelhar,
Amor,
Sem temor,
Olho o que eu olho me olhar –

Ao entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Com você morrer, morrer.

Paixão de fogo de paixão
De fogo de paixão
De fogo de paixão,

Em que me afogo de paixão
Me afogo de paixão
Me afogo de paixão

terça-feira, 11 de maio de 2010

Hamelin






Gosto de comédias românticas. Gosto quando as mãos crispadas se entrelaçam e a raiva se transforma em tesão, o beijo selando a boca (acabo de ver essa cena numa comédia romântica) rs
Gosto de diálogos inteligentes, diálogos nonsense, gosto de diálogos.
Gosto de ser otimista. Gosto do bom, do belo e do novo.
Gosto de rir e cantar.
Gosto de cozinhar, bebericando uma taça de vinho e conversando...
Gosto de reviravoltas e morango.
Gosto do tobogã da vida.
Gosto de segredos, declarações de amor, lua cheia e por do sol.
Gosto de música e de brigadeiro de colher.
Gosto de pão quentinho e de chocolate.
Gosto de gostar.

E você, do que gosta?

PS: Hamelin é o título da tela que abre esta postagem. Nela o músico não toca flauta, toca um violino negro que com seus acordes leva para longe todas as lembranças ruins de um passado cada vez mais distante.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Poema com flores





Este post é para homenagear todas as mães que no próximo domingo comemoram seu dia, por todos os dias que eu tive junto da minha, por todos os dias que eu quero ter com minha filha, para aquelas que estão aqui e para as que se foram:


PARA SEMPRE

Porque Deus permite
qua as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 2 de maio de 2010

Refletindo


Esta tela eu dei de presente a uma amiga de infância quando ela esteve aqui no Brasil. Ela é espanhola e vive na Espanha, só esteve aqui uma vez. Passamos muito e muitos anos sem nos vermos, nem mesmo falarmos, apesar da facilidade da internet. No entanto, quando nos encontramos, aqui ou lá, é sempre a mesma emoção, é como se nunca tivéssemos nos separado. Fazemos planos para o futuro, viajar juntas, nos vermos com mais frequência... Isso é amizade da boa, que nem o tempo ou a distância conseguem diminuir ou apagar. Um brinde à amizade, minha grande amiga Ester!

Sombras, reflexos
Meus passos me levam para longe

Lembranças de ontem
Desejos de manhã
O mar é meu espelho

O céu reflete meus pensamentos
Sou camaleão
Mimetizo a paisagem
Mas a paisagem está vazia
Vazia de você
Você que eu quero em mim
Como
o céu

Como o mar
Como a paisagem