terça-feira, 20 de julho de 2010

Trajetória I

Quando resolvi que pintar seria algo especial para fazer num momento particularmente triste de minha vida, me inscrevi num curso de desenho de observação. Como a maioria das pessoas, eu pensava que o primeiro passo para pintar era saber desenhar.

Não tenho talento nato para o desenho e, por isso, até conseguir algo razoável tenho que dispender muito esforço e energia vital. Hoje, vital para mim é pintar.

Com Edson Calmon aprendi que um exímio desenhista não se tornará, necessariamente, um grande artista. Além disso, há diversas formas de se transferir uma imagem para a tela sem recorrer à habilidade do desenho.

Edson, que utiliza a colagem como recurso para a criação em arte nos ensina:


"Grande equívoco pensar que o poder de desenhar é um dom e somente os que o possuem podem desenvolver um processo de criação capaz de colocá-los no patamar da criação artística.

O fato de ter habilidade inata para o desenho não credencia ninguém como artista. O que dá a dimensão de arte a uma obra é a sua fatura estética.

Desenhar é uma ação mágica, elegante e convincente. Com algumas linhas rápidas e espontâneas, o indivíduo pode levar emoção às pessoas e travar com elas um diálogo no plano estético. O desenho não exige nenhuma qualidade excepcional do ponto de vista da destreza manual do sujeito que o pratica, exige sim, do seu sentido intuitivo, da sua capacidade imaginativa e criadora e do seu sentimento.

Um desenho traçado com linhas toscas, sem nenhuma “habilidade” e sem nenhuma ligação com a “realidade” visível, se for oriundo de profunda e verdadeira sensação íntima, pode conter mais vida, mais emoção e beleza do que outro, asséptico, bem confeccionado dentro das normas da boa execução técnica e do exercício da observação externa.

O “excesso de habilidade” pode levar ao maneirismo estéril, à rigidez que acaba por sufocar qualquer possibilidade de emoção estética."

Em primeira mão, vou mostrar para vocês alguns desenhos produzidos na época, entre eles um auto-retrato. Infelizmente nunca mais exercitei o desenho o que, no meu caso, é fundamental para conseguir produzir com alguma qualidade. Em minha última viagem até comprei um pequeno caderno para voltar a desenhar, mas ainda não o fiz. Um dia, quem sabe...




Carvão nº 1





Minha eterna fonte de felicidade




Minha eterna fonte de felicidade de chapéu




Kirk Douglas




Desenho criativo





Auto-retrato

Nenhum fio de cabelo solto
Talvez para não deixar escapar
Qualquer pensamento
Qualquer sentimento
Como se isso fosse possível
Olhos de quem viu de quase tudo
De quem sofreu quase tudo
Que mais haveria para sofrer?
Rosto-estátua, fria
Por que tinha que ter sido assim?
Dessa época só guardo os brincos!


7 comentários:

Edu O. disse...

Também nunca fui bom desenhista, mas nunca me incomodei com isso. Qdo estava cursando Belas Artes eu adorava as esculturas e colagens. Acho que o desenho me afastou das Artes Plásticas, virei dançarino.

Moniz Fiappo disse...

Nunca vou agradecer ao nosso mestre o suficiente. Por causa dele e dos seus conceitos,diga-se de passagem extraordinariamente reais, hoje vivo a arte (pintura sobretudo). E torno a repetir: foi a arte que me salvou!

Anônimo disse...

Eu não sou bom desenhista, pintor, colador ou escultor. Eu não chego nem perto de ser um péssimo artista. Uma pena.

Lucia Alfaya disse...

Chorik

tenho certeza que você é um artista das palavras, escreve muito bem e tem um humor maravilhoso.

bjs

Lucia

Lucia Alfaya disse...

Edu

Morria de inveja de uma criatura que desenhava igual a uma máquina fotográfica. Hoje já me conformei à minha capacidade limitada mas satisfatória. Gosto mesmo é de pintar, isso sim me completa.

Dançar é desenhar no ar!

Terráqueo disse...

Lúcia,

Você pode não ter o domínio do desenho que você gostaria de ter. Mas teus quadros são lindíssimos, com um domínio incrível da pintura, uma grande criatividade, e têm uma beleza plástica imensa. Fico impressionadíssimo com eles.
Ps. Adorei os teus estudos.
Beijos

Lucia Alfaya disse...

Obrigada querido terráqueo, seus comentários sempre me deixam feliz. Beijos
Lúcia