terça-feira, 8 de junho de 2010
Adelaide
Bicho de sete cabeças. Cada uma com mais sete, replicadas ao infinito. Medusa dos trópicos. Mil idéias em desalinho. Em cada boca um pincel. Em cada pincel uma cor. Nasceu Adelaide. Adelaide se esconde sob um arco-íris lilás. Seus olhos são negros, como seu cabelo. Você consegue vê-la? Nasceu de uma foto onde uma mãe chorava a morte de sua cria. Seu rosto mostrava uma dor imensa, comovente, enquanto acariciava a cabeça da criança, como se quisesse fazê-la renascer, como se não fosse capaz de aceitar aquela partida tão prematura. Vítima da tragédia ocorrida numa escola da cidade russa de Beslan, onde terroristas chechenos provocaram a morte de 344 civis, entre eles 186 crianças, entre elas aquele bebê. Agachada junto a seu filho, aquela mulher era o retrato genuíno da maior de todas as dores, sem escândalo, expressão profunda de uma perda irreparável, tristeza que carregaria para sempre.
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5 comentários:
Lucia, a cada post você surpreende ainda mais. Belíssimo quadro. Belíssimo texto.
Você é uma grande artista.
Lucia,
Vocé é muito sensível. Lembra muito a minha mãe, que por ocasião da chacina da Candelária imediatamente escreveu uma poesia e desenhou uma série de anjos. Quando eu soube da notícia da morte da minha amiga, imediatamente pensei na mãe dessa moça. Que sofrimento horrível.
Obrigada queridos. A sensibilidade por um lado é boa, pois nos mantem próximos da nossa humanidade, por outro lado, em tempos tão "cabeludos", nos faz sofrer além do necessário ou desejável.
Eu sei. Essa minha sensibilidade me fere. Às vezes, consigo me proteger um pouco, me esconder de mim mesma. Mas ela tem faro, é boa em decifrar pistas e, inevitavelmente, me encontra.
Lúcia:
Sempre belíssimos os teus quadros.
Bj.
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