segunda-feira, 21 de junho de 2010

A Viagem





Circo - 2001



Foi ao cinema. Sozinha. Como sempre fazia, mesmo antes da separação. Não era como algumas pessoas que precisam de companhia para tudo. Gostava de estar só às vezes. Ir ao teatro ou almoçar não carecia necessariamente de ser um momento dividido com alguém.

Naquele dia talvez estivesse mais emotiva do que o normal e por isso uma conversa, absolutamente banal, despertou nela uma tristeza que transbordou em lágrimas, teimosas, desobedientes à sua ordem de recolher.

À sua frente estava sentado um casal de meia idade, dividindo um lanche, à espera do início do filme. Entre uma mordida e outra em seu sanduiche, o homem disse:

- Toda vez que como este sanduiche lembro daquela viagem que fizemos para...

Parou de ouvir a conversa e começou a pensar em como seria bom ter alguém para conversar e lembrar de momentos vividos juntos, alguém que a compreendesse e estivesse disposto a ouvir com atenção, relembrar detalhes, sabores, cores, cheiros, experiências, descobertas...

Nesse ponto seus olhos começaram a exprimir em lágrimas os seus pensamentos e por alguns instantes desejou envelhecer ao lado de alguém.

Mesmo após duas tentativas fracassadas, ainda espera pelo homem que a levará ao cinema e comentará sobre aquela viagem...

Ainda assim...






Pra Rua Me Levar

Ana Carolina e Totonho Villeroy

Não vou viver, como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho onde eu vou
As vezes ando só, trocando passos com a solidão
Momentos que são meus, e que não abro mão
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora

Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
Eu vou lembrar você

É mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora...


6 comentários:

Bípede Falante disse...

Lucia, entendo o desejo de um co-piloto para a viagem. Mas, às vezes, é preciso andar um pouco sozinha ou então, com a Lousie, se a pessoa em questão for a Telma, ou vice e versa, até surgir um Brad Pitt :)
Então, mãos e coração nos pincéis, que o seu passeio, certamente, elevará alguém de sorte às alturas!
Que bom que veio bloguear!

Lucia Alfaya disse...

Concordo plenamente, por isso a música: "Não vou viver, como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho onde eu vou..." e é verdade, há muitas coisas no caminho que escolhi trilhar, um companheiro de viagem seria a cereja do bolo, o principal eu já tenho e se não aparecer nenhum Brad Pitt, serve um Pierce Brosnan ou um Daniel Craig (hoje estou 007)rsrs
Estou de férias por 15 dias e espero colocar o blog em dia, já que não vou viajar...
Beijos

Terráqueo disse...

Lucia,
Mais um quadro em um texto de arrasar. Conheço bem essa sensação. Beijo,

Terráqueo

Bípede Falante disse...

Lucia, já estou publicando no blog Contos Marginais. Endereço:
http://contosmarginais-ged.blogspot.com/

Se você quiser participar, avisa que envio a permissão. O blog é do GED, mas tenho acesso aos convites. O Terráqueo vai.
Beijo.

TARDE disse...

Gostei. Boa semana pra ti.

Moniz Fiappo disse...

Essa sensação me acompanha às vezes. Sinto falta de conversar, comentar coisas banais, hábitos, gracejos, enfim. Mas, por outro lado, às vezes é tão bom ficar sozinha...
Vivo, como boa libriana, com os pratos da balança pendendo, ora lentamente, ora rapidamente, quem entende?
Grande letra dessa canção. Adoro!